SAUDADE DE THIERRY SABINE!
Quero crer que existiram razões muito fortes para cancelar a edição de 2008 do Lisboa-Dakar. Acredito na eficácia dos Serviços de Informações, e tudo me leva a crer que a avaliação do risco feita pelas autoridades francesas indiciaría um nível de ameaça bastante elevado.
Não adianta lembrar que noutras edições mais remotas o rally nunca deixou de se realizar, mesmo em cicunstancias de guerra com a caravana a ultrapassar colunas militares. A verdade é que tudo mudou, o mundo de hoje defronta-se com uma realidade totalmente diferente e a ameaça global de uma rede terrorista transnacional, veio alterar a forma de pensar e agir face às novas ameaças.
No entanto há questões que se levantam:
Porque é que a caravana não partiu de Lisboa rumo a Marrocos, cumprindo com uma parte substancial dos compromissos assumidos pela organização?
Se a ameaça residia apenas na Mauritânia, porque não se realizaram provas em Marrocos?
Porque foi tão apressada a decisão da organização francesa?
Estas questões fazem sentido, pois quem está habituado à vida empresarial, conhece bem o significado da estratégia de "diminuição de perdas", e o Dakar é uma enorme empresa comercial. Surpreendeu-me a total ausência de preocupação com a diminuição de perdas. A partida de Lisboa, poderia ter sido atrasada um dia ou dois, se necessário, mas todos os intervenientes deveriam ter participado no processo de decisão: organização, patrocinadores e concorrentes.
Logo na manhã de ontém, Carlos Sainz, colocava a possibilidade de se realizarem apenas as provas de Marrocos. Claro que isto só faria sentido, tendo por pressuposto, as informações de que a ameaça residia apenas na travessia da Mauritania, conforme foi divulgado pela organização francesa. O problema é que neste caso pouco ou nada sabemos ao certo.
Todos nos lembramos da capacidade de Thierry Sabine para ultrapassar as dificuldades. Como salientou Elizabete Jacinto: "o Dakar é isso mesmo, põr á prova a nossa capacidade de ultrapassar dificuldades!"
Será que não se poderia ter encontrado solução menos gravosa do que o cancelamento da prova, com prejuízos ainda difíceis de calcular? Não seria possível pelo menos realizar parte da prova até Marrocos?
Fica a sensação de que a organização francesa foi demasiado expedita no cancelamento puro e simples, sem deixar margem de manobra para outras alternativas. Terão saudades das partidas da Praça da Concórdia?
Vasco Martins dos Santos