
Famoso na Irlanda, o Shorland não é um modelo muito conhecido do grande público português, mas também andou por terras lusas. Aparecendo fugazmente, na maior parte dos casos, a sua simples presença tinha a capacidade de acalmar os ânimos mais exaltados, evitando recorrer ao uso da força.


Construidos sobre o chassis do Land Rover Série II, donde decorre o nome Shorland, com que o modelo fo baptizado, e que resulta da união de Shorts com Land. As primeiras unidades entregues ao "Royal Ulster Constabulary" foram fabricadas pelos Short nos Estaleiros Navais de Belfast e por isso mesmo exibiam uma pintura cinzento "navio de guerra".

Várias foram as versões que se seguiram: o Mark 1 e o Mark 2 com base Series II A 109", o Mark 3 com base SB 301 Séries III 109", o Mark 4 com base SB401 Stage 1 V8.

Depois de intensa utilização em Belfast nos anos 60 e 70, foram repintados de côr verde "militar" e atribuidos ao "Ulster Defence Regimenent".
A versão original tornou-se conhecida não só pela sua torre Ferret, mas também pela cauda tipo barco ("boat tail"), no entanto esta configuração era algo limitadora pois restringia a sua tripulação a três pessoas: o condutor, o observador e o artilheiro.


Em termos operacionais, trata-se de um veículo ligeiro, rápido, com excelentes capacidades de todo-o-terreno, que possibilitam a sua utilização em missões de reconhecimento, sendo suficientemente versátil para a instalação de armamento diverso. Quando dotada de lança-granadas, torna-se muito eficaz para missões de ordem pública.

Actualmente versões melhoradas, com blindagem mais resistente, utilizando já o modelo 110 como base, dotadas suspensão de molas helicoidais, e com plataformas de armas tão avançadas como os actuais lança-mísseis, mantém-se em estado de prontidão em teatros de operações em diversas partes do globo.

No entanto, devido à limitação da configuração original e à imagem demasiado bélica da torre Ferret dotada de Metralhadora e/ou lança granadas, considerada pouco apropriada para o patrulhamento policial urbano, mesmo em situações que exigem uma intervenção mais musculada, foram desenvolvidas novas versões.

As versões mais recentes utilizam como base o chassis 110", com motorização V8 a gasolina, tem uma blindagem reforçada com paineis de aço duplos, e tejadilho reforçado, para maior protecção contra engenhos explosivos arremessados dos prédios.

Entretanto a "Royal Ulster Constabulary", actual "Police Service of Northern Ireland", aproveitando o conhecimento e experiência de Ernie Lusty, começou a conceber e a aperfeiçoar os seus próprios veículos, sendo o mais recente conhecido como "Tangi", abandonando definitivamente o cinzento e utilizando cores mais "civilizadas": branco, com listas azuis e amarelas.
Quando era miudo lembro-me perfeitamente de assistir fascinado à passagem de pequenas colunas de Shorland da GNR a atravessarem o Campo Santana, rumo a Sta. Barbara. Há poucos anos atrás tive oportunidade de apreciar um exemplar no stand da GNR na Segurex. É frequente encontrar estes carros em eventos em que participe a GNR.

A empresa Portuguesa BRAVIA, SARL. fabricante do famoso Chaimite, produziu um veículo muito semelhante, utilizando igualmente um chassi Séries II A. Trata-se do denominado Bravia Commando MK III, construido em Portugal, na fábrica de Porto Alto. Embora certas fontes indicassem que este modelo teria estado ao serviço da GNR e de algumas unidades do Exército, tal não é verdade, sendo hoje ponto assente, que o veículo adoptado e utilizado pela Guarda durante muitos anos terá sido o Shorland, sendo que o modelo português apenas terá sido comercializado para dois países Africanos não identificados, desconhecendo-se datas e quantidades.

Citação:
Assim, decorria em ritmo acelerado, sobretudo depois do 16MAR74, o processo de aquisição de carros de patrulha blindados “Shorland, Mark III”. Foi recebido um em 13MAR74 e mais dois em 09ABR74. Os restantes 35 foram entregues ao 2.º Esquadrão do RC/GNR, em 12MAR75(...).
Citação:
(...) o processo de aquisição das viaturas blindadas “Shorland” (destinadas a substituir as auto-metralhadoras “Berliet 6x6 WWB4”, que datavam dos finais dos anos 30 e as auto-metralhadoras “Humber MK IV”, que datavam do início dos anos 50) apenas carece das seguintes correcções: foram adquiridas na Irlanda do Norte, 38 e não 55 viaturas blindadas e o custo unitário foi de 1.309.524$00 e não os mil contos referenciados. Estas viaturas tomaram parte, logo a seguir ao 25 de Abril, em diversas acções da Guarda, em todo o território nacional, com destaque no envolvimento na apelidada “Reforma Agrária”, obtendo pela sua acção ou somente pela presença, importante papel na manutenção/restabelecimento da ordem pública.

Patch da GNR
Os Shorland encontram-se em serviço em mais de 40 países, incluindo Argentina, Bahrein, Botswana, Brunei, Burundi, Chipre, Guiana, Quénia, Lesoto, Líbia, Malásia, Mali, Síria, Tailandia, Emirados Arabes Unidos.
Vasco Martins dos Santos